Olá leitores. O assunto desse e do próximo post é a linha Southern Cross da Fender. Alguns devem estar se perguntando sobre o que que isso tem a ver com o blog, que se chama “Brazilian Guitars”. A resposta é simples. Essa série era fabricada no Brasil, pela Giannini de 1992 a 1995, sob supervisão da Fender. Um funcionário vinha dos Estados Unidos regularmente verificar a produção. Nesse primeiro post sobre essa linha, postarei uma entrevista com o Carlos Assale, responsável pelas guitarras “Fender by Giannini”. Essa entrevista também está disponível na comunidade “Guitarras Fender”, no Orkut.
“Entrevistador: Carlos Assale, você foi o responsável pelas Fender by Giannini. Como foi possível licenciar a marca Fender?
Carlos Assale: É verdade, o projeto Southern Cross. A Giannini tinha conseguido em 1990 uma licença para a fabricação das Fender aqui. O objetivo da fábrica americana era ter um fornecedor de violões tradicional, a quem pudesse confiar essa linha de instrumentos. Foi uma troca de interesses. Coincidentemente, foi na mesma época que eu estava deixando a Dolphin. O Giorgio Giannini - que apesar de ferrenho concorrente tinha comigo uma relação de amizade, respeito e admiração - me convidou para assumir a direção técnica da empresa e, entre outras coisas, tocar o projeto Fender/Giannini. Começamos a trabalhar em 1991 e enviar amostras para aprovação. Eu fui a interface com a Fender, acompanhado do Roberto Giannini. Visitamos as fábricas de Ensenada e Corona muitas vezes, trabalhamos o produto, demos aulas sobre design e fabricação de acústicos. Aprovamos o braço em pouco tempo mas o corpo levou uns dois anos e MUITAS amostras - foi preciso muitas mudanças de ferramental. É incrível como a Fender é sensível ao shape da Stratocaster, que é na verdade sua marca registrada, sua identificação. No fim recebemos um fax do Dan Smith, diretor de marketing da Fender, dizendo que o produto tinha melhorado 4000% e que a confiança era tanta que pela primeira vez eles iriam permitir que um produto produzido fora de suas fábricas e sem seu envolvimento comercial ostentasse o nome Fender no headstock. Fabricávamos em lotes e eles só iam para o mercado depois que um representante deles viesse fazer uma minuciosa inspeção. Elas eram até pesadas! Foram produzidos cerca de 5000 instrumentos de 1993 a 1995. O projeto foi abortado porque as peculiaridades econômicas do Brasil somadas ao royalty muito alto tornaram tudo economicamente inviável. As más línguas dizem que foi por problemas técnicos que tudo parou, mas nunca houve nenhum problema desse tipo.
E: As Fender brasileiras tinham a mesma qualidade que as americanas, mexicanas e japonesas?
C.A.: Conheci bem essas fábricas e seus produtos. Posso dizer com segurança que, fora o hardware e a captação, não há nenhuma diferença em relação às americanas. Com as outras não há nenhuma. É o que o pessoal que vem testando e comparando tem descoberto. Existem Fender feitas em todos os lugares do mundo, dos EUA a Coréia, passando por Japão e México, até no Brasil já foram feitas (pela Giannini, sob licença conhecidas como Fender Southern Cross, mas foram produzidas Stratos e não Teles por aqui), sem falar nas atuais Squier, sub linha da Fender. Eu tenho uma desde 93 e fiz um upgrade com Texas Special, tarraxas Gotoh, escudo white pearl, neckplate, ponte, knobs, strap lock, trastes dunlop, mudei a cor e parte elétrica tudo original e também tenho uma American Standard desde 96 que continua original. A Southtern Cross, ficou muito boa!, mas não ficou nelhor que a americana. A propósito, até onde eu sei ela foi produzida em nas cores preta, azul com preto tipo sunburst e vermelha. Inclusive já vi algumas Stratosonic transformadas com pickups encapados tipo Lace Sensor, não se enganem, são Giannini mesmo, e não foram usados nas Fender.”
As Southern Cross ainda são bastante admiradas por muitos e também odiada por outros. Um dos motivos é seu corpo em cedro, que é completamente diferente do Alder utilizado nas Fender americanas e mexicanas, descaracterizando o timbre de Stratocaster. Um outro motivo é um velho conhecido nosso: o preconceito contra instrumentos brasileiros. Mas de qualquer maneira, eram guitarras muito interessantes e com preço acessível na época.

Na próxima postagem, postarei a segunda parte, com informações técnicas sobre a Southern Cross e mais algumas imagens. Não deixem de conferir. Postagem por Flávio Marcel.